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Ponta Porã Linha do tempo: Causos e lendas do folclore da fronteira. A lenda da cabeceira 25.

 

 

O primeiro Acordeon (popularmente chamado de sanfona) que chegou ao Brasil chamava-se concertina (Acordeon cromático de botão com 120 baixos)”.

“O Acordeon tornou-se popular principalmente no nordeste, centro-oeste e sul do Brasil. Os primeiros gêneros (fado, valsa, polca, bugiu, caijun) retratavam o folclore dos imigrantes portugueses, alemães, italianos, franceses e espanhóis”.

Fonte e imagem: http://www.mundomax.com.br/blog/tag/sanfoneiros-brasileiros/

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Causo é a maneira simples de um povo contar uma estória, algo que era feito pelos mais velhos, os anciões em outras épocas, as novas gerações. O respeito aos mais velhos era prioridade nesses tempos, todos se conheciam e se respeitavam.

 

Para sempre manter vivos nas lembranças fatos acontecidos nessa região o causo era assunto entre amigos, cheio de detalhes, onde a crença e a religiosidade se põe a prova, principalmente de respeito, mesmo a assuntos ocultos, causo era contado para matar saudades de outros tempos, lembrando-se daqueles que por aqui passaram e para manter viva sua história, vira mais um causo da região.

 

Este é um causo cheio de mistério algo de arrepiar, só de imaginar, passar por está situação, fala sobre a cabeceira 25 que antes era conhecida como Jaha Jova’y, (guarani, significa Vamos Juntos), essa cabeceira já não existe nos dias de hoje, sua lenda, muito tempo esquecida, mas resgatada graças aqueles que cresceram escutando esse causo antigo da região.

 

Século XIX época difícil para região de fronteira a pouco a guerra acabara, esse período era de reconstrução, Ponta Porã (Porã em guarani quer dizer bonita), não levava nome por acaso, aqui nestes tempos um lugar de parada de comitivas e tropeiros, mas também existiam muitos quatreros (bandidos, assaltantes) que vinham para essa região pela fartura de seus pequenos riachos, córregos, muitos deles deixaram de existir com o passar dos anos, a cabeceira jaha jova’y segundo informação e relatos de quem escutou esse causo, de quem viveu nesses tempos, se localizava próximo à carvoaria de Sanja Pytã (em Guarany significa córrego vermelho) neste local era um ponto de parada, pois poderiam dar de beber aos cavalos se abastecer de água, descansar e seguir viagem.

 

Certa vez conta a lenda, que dois jovens se apaixonaram, o rapaz de boa presença e um bom gaiteiro a moça prendada e tinha como instrumento uma rabeca uma espécie de violino um pouco mais rustico, os dois se conheceram em reuniões entre as famílias da região enquanto um tocava sua gaita o outro acompanhava com a rabeca, mas quis o destino separar os dois, a família da moça seguiria rumo à região de Capitan Bado, o rapaz por sua vez seguiria rumo a capital Assunção, antes de seguirem viajem os dois prometeram se reencontrar na capital.

 

Os jovens tocaram sua ultima musica juntos no encontro das famílias na cabeceira Jova’y, pois deste ponto cada um seguiria sua viajem, a família do jovem rapaz seguiu viajem primeiro rumo a capital Assunção, a família da moça seguira sua viajem ao amanhecer, pois esperavam mais membros da família, segue o fato, que quando os outros familiares chegaram para se juntar ao restante da família, não perceberam que foram seguidos por quatreros, e esses surpreenderam a todos, o restante da lenda segue que todos foram mortos impiedosamente por tais bandidos.

 

Sem saber o jovem rapaz esperou sua amada por longo tempo, triste e abandonado por seu amor, sem saber o que havia ocorrido, seguiu viajem para outro continente, para tentar curar sua dor.

 

Os anos se passaram o rapaz envelheceu e na sua velhice resolveu voltar a esta região fronteiriça, que tanta saudade tinha dentro do seu coração, ele que por anos não esquecia sua amada, nunca se casou.

 

Chegando à fronteira, perguntando da família nenhuma noticia tinha a respeito os anos tinham apagado da memória dos moradores da região, mas como ele conhecia seguiu rumo à cabeceira jova’y, que mudara de nome, chamava de cabeceira 25, isso o intrigava, por que tinham mudado o nome da cabeceira, mas convicto em seguir viajem em direção a Capitan Bado, para tentar reaver sua amada ou ao menos noticias da família, foi em direção da Cabeceira, ao chegar, atrelou seu cavalo tirou de dentro de uma bolsa uma bela gaita empoeirada, mas com um som que se misturava ao som do vento, um tropeiro que passava por perto, chegou ao seu lado e em alto e bom tom falou ao senhor que tocava a gaita, meu senhor que faz aqui?Não sabe que este lugar não é bom para fazer parada, descanso, pois coisas estranhas acontecem, o velho gaiteiro questionou o tropeiro, o que acontece aqui? O tropeiro sem titubear disse, aqui existem espíritos que não descansam muito choro, gritos, e um som triste de violino, o senhor não sabe aqui houve há muito tempo uma tragédia, uma família foi massacrada e dizem que uma linda jovem que tocava o violino (rabeca) assombra essa cabeceira.

 

O velho gaiteiro sem voz começou a chorar por saber que sua amada não tinha abandonado, como ele imaginava, ela estava há muito tempo morta. Então começou escutar um som de violino que ecoava pela cabeceira, o tropeiro chamou o velho gaiteiro, vamos embora, pois os espíritos já estão por aqui, mas o velho gaiteiro seguiu em direção à cabeceira tocando sua gaita acompanhando o som do violino, até seu último suspiro tombando ao chão, quando tudo parou.

 

Com a morte súbita do velho gaiteiro, se é verdade ou lenda, quem conhece esse causo, escutou dizer que se passar nessa região e acreditar, você consegue escutar o som do violino (rabeca) e da gaita ecoando na cabeceira.  Acreditar em um causo, lenda e manter viva a cultura de uma região.

 

Pesquisador: Yhulds Giovani Bueno. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Estaduais e Federais). Professor coordenador da Rede Municipal de Educação. Membro do Grupo Xiru do CTG – Querência da Saudade – Ponta Porã – MS.

 

 

Ponta Porã Linha do Tempo. Causos e lendas do folclore da fronteira de outros tempos. “Jacy Jaterê o Tesouro e o Pé de Erva-Mate”.

 

*Yhulds Giovani Pereira Bueno.

 

Causos e lendas fazem parte do imaginário dos seres humanos de várias raças e etnias, desde que estas habitam o mundo, com suas crenças e ritos. Tais histórias regadas de muito mistério e superstições se espalham através dos tempos provocando, intrigando quem as escuta, tem aquele que até afirma que presenciou tais acontecimentos, que nos dias de hoje seria fora do comum.  

A mente humana é cheia de segredos, ainda não muito claros e totalmente resolvidos nos meios científicos, estudiosos e Phd nos assuntos, afirmam que o cérebro humano possui capacidades ilimitadas ainda desconhecidas na atualidade.

Uma reportagem publicada na revista veja há alguns anos aborda o seguinte assunto: “Pesquisadores do Instituto Karolinska, na Suécia, fizeram a descoberta através da análise de uma ressonância cerebral computadorizada. Vinte e cinco pacientes com saúde perfeita foram submetidos ao teste, que mediu quantas informações eles absorviam enquanto sofriam com algumas distrações. Descobriu-se que as informações de menor relevância despertavam a atividade dos gânglios basais, que se preparava para "filtrar" essas mensagens. O funcionamento dessa área varia de pessoa para pessoa, observação dos médicos suecos permite afirmar que as pessoas não têm melhor ou pior memória, mas sim melhor ou pior capacidade de filtrar o que é irrelevante” 10.12.2007. Fonte de informações, pravda.ru.

Pesquisas ainda serão feitas sobre os segredos da mente humana e nosso imaginário, para desta forma tentar explicar acontecimentos fora do comum cheios de mistérios, o que vale ressaltar é que graças a nossa mente, que muitos assuntos, que para uns se tornam irrelevantes, tais assuntos para muitos se tornam causos e lendas e atravessam gerações instigando de forma positiva a curiosidade dentro do imaginário humano.

Desta forma vamos resgatar uma entre tantas lendas e causos da região fronteiriça que a muito se faz esquecida na atualidade, que fala sobre o Jaci Jaterê, que segundo pesquisadores, (também grafado como Jasy Jaterê em Guarani e Yasy Yateré em espanhol). “É o nome de uma importante figura da Mitologia guarani. Um dos sete filhos de Tau e Kerana, as lendas de Yacy Yateré, são das mais importantes da cultura das populações que falam o idioma Guarani, na América do Sul. Tem sua origem segundo pesquisadores, presumida entre os indígenas da Região das Missões, no sul do país, de onde teria se espalhado por todo o território brasileiro”.

Com um nome que significa literalmente (pedaço da Lua), é único dentre os seus irmãos a não possuir uma aparência monstruosa, horrenda. É descrito como uma criança, loira de pele branca, com olhos azuis, uma criatura bela ou encantadora, e carrega um bastão ou cajado mágico feito de galho de erva mate, habitante da mata, sendo considerado ele “Jacy Jaterê” o protetor da Erva-Mate, também é visto como protetor dos tesouros escondidos nas matas.

Jacy Jaterê, segundo pesquisadores, também é considerado o senhor da sesta, o tradicional descanso ao meio do dia, habitual na cultura latino-americana, muito utilizada também na região fronteiriça. Segunda a lenda Jacy Jaterê deixa a floresta e percorre as vilas procurando por crianças que não descansam durante a sesta.

Por ser ele um ser místico ele é invisível, e só se mostra a essas crianças, que quando observam seu cajado mágico ficam hipnotizadas em uma espécie de transe, algumas lendas dizem que essas crianças são levadas para um local secreto da floresta, onde brincam até o fim da sesta, quando recebem um beijo mágico, que as devolve a suas camas, sem memória da experiência ocorrida, outra lenda diz que as crianças são levadas por ele e ficam dias na mata brincando e sendo alimentadas, umas nunca mais são encontradas.

Este é um causo muito antigo, reporta a meados do fim do século XIX (dezenove), do pós-guerra do Tríplice Aliança, que fala sobre “Jacy Jaterê”, de uma fronteira, de poucas casas e muitas estâncias, um período histórico onde a vida era simples de rotina árdua nestes tempos, de poucos recursos, tudo era feito no trabalho braçal, pelos trabalhadores rurais destes tempos, nada era fácil, a conquista do sonho de uma vida melhor era feito com suor, sangue e lágrimas, por estes pioneiros que desbravaram a região de fronteira, ninguém escapava das tarefas diárias, crianças, mulheres, homens e idosos, cada um tinha seu papel de importância na rotina do campo.

Os trabalhos iniciavam antes do clarear do dia, todos já sabiam seus afazeres, e como de costume, o filho do estancieiro era incumbido de ir até um riacho que ficava dentro da propriedade, e de lá trazer os baldes de água, o menino fazia algumas viagens para encher os reservatórios da sede da estância, passava praticamente a manhã realizando este trabalho com uma pequena carroça e um cavalo velho, ele enchia os baldes, colocava na carroça e levava para sua casa, onde a sua mãe já esperava, enquanto o restante estava no campo plantando, desmatando e outros cuidando do rebanho e demais animais, o desmatamento se fazia necessário nesses tempos para fazer novos campos de plantio.

Os moradores mais antigos da região muitos deles ligados a algumas tribos que ainda existiam nesse período tinham suas crenças, que muitas vezes eram ignoradas pelos novos colonos que vindo de outros cantos do Brasil desconheciam tais assuntos, fora do comum.

O filho do estancieiro sempre que voltava do riacho, contava a sua mãe que enxergava um menino, que ficava observando ele pegar água, descrevia o tal menino como sendo de pele branca, loiro de olhos claros que tinha um bastão na mão, que se escondia na mata ou ficava na beira do riacho, e que ele estava com medo de tal criatura, a mãe cética de tal história sempre repreendia o filho, dizendo que o mesmo estava inventando causo para não ir pegar a água no riacho que fica a algumas legas de distância, já seu pai homem rustico do campo de poucas palavras, ao saber retrucava o menino, às vezes com uma boa surra, para que o mesmo não inventasse história, para deixar de trabalhar.

Segundo o causo o menino como toda criança, que tem certo medo misturado com muita curiosidade, começou a espiar a tal criatura em forma de criança quando ia ao riacho, de mansinho observando que direção ela seguia, com muito medo, mas também com muita curiosidade seguia vez ou outra o menino loiro que sempre parava perto de árvores vistosas bonitas de flor branca, com medo ele não seguia tão longe e voltava ao riacho para terminar de encher os baldes de água.

Já cansado de querer convencer seus pais da existência do menino, contou aos moradores mais antigos da região que trabalhavam na estância, que logo foram alertando não incomode e nem chegue perto, pois você viu o “Jacy Jaterê” o espirito do mato, ele deve estar cuidando alguma coisa muito importante naquele lugar, o menino como sempre escutou nas rodas de conversa sobre os tesouros enterrados da guerra ficou mais curioso ainda, achando que o “Jacy Jaterê” poderia estar cuidando algum tesouro.

Ao clarear do dia o menino seguiu sua rotina intrigado com tal história, chegando ao riacho ficou observando se o tal “Jacy Jaterê” aparecia, como o tal espirito do mato não apareceu o menino se foi atrás, seguindo até o lugar das árvores de flor branca, observou que o menino loiro brincava com uma grande caixa brilhante e que de dentro dela tirava moedas amarelas e acinzentadas e pedras coloridas, que brilhavam ao sol.

O filho do estancieiro ficou tão vislumbrado com que observou que rapidamente voltou para casa, e contou o ocorrido a sua mãe, que com desdém pouco crédito deu a história do filho, mas tarde o menino contou toda história a quem quisesse escutar na estância, os empregados novamente alertaram o menino, dizendo para ele não mexer com tal espirito, pois ele poderia se zangar e se voltar contra todos na estância, por que o local onde o “Jacy Jaterê” se escondia era um lugar sagrado de grandes pés de Erva Mate com flores brancas, essas árvores já eram nativas da mata por serem muito antigas, e que tal caixa deveria ser um achado ou enterro da guerra, um baú com muito ouro, prata e pedras preciosas, que o espírito protegia e tinha como seu, e se alguém se atrevesse a tentar pegar “Jacy Jaterê” se vingaria de todos com ajuda de seus irmãos.

O menino com medo, mas com vontade de ter em suas mãos tal tesouro voltou ao tal local, e roubou o baú de “Jacy Jaterê”, voltando pra sua casa, sendo recebido por todos como um herói por ter achado tal tesouro, o menino com medo do que poderia acontecer pediu para seu pai derrubar tais pés de Erva Mate, desmatando todo local, desta forma afugentando o espírito de “Jacy Jaterê”.

Os anos se passaram, o menino cresceu, casou–se e teve um lindo filho que era o herdeiro de sua rica estância, certa manhã o estancieiro fora acordado, com os gritos de choro de sua esposa, que aos lamentos pedia a volta de seu bebe, pois a criança tinha sumido do berço, e dentro do berço somente e tinha duas mudas de Erva Mate.

Por dias procuraram a criança, mas sem sucesso, os antigos diziam fora o espirito da mata “Jacy Jaterê” que levou o filho do estancieiro para se vingar do que ele tinha feito no passado. Ficando esse mais um causo da região de fronteira.

Muitos acreditam que o espirito de “Jacy Jaterê” ronda as matas da região fronteiriça, a quem dúvida de tal criatura, mas não entra nas matas evitando se deparar com este espírito da mata. Resgatar causos e lendas e manter vivo a memória cultural dos pioneiros de outros tempos da região de fronteira.

Pesquisador: Yhulds Giovani Pereira Bueno. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Estaduais e Federais). Professor coordenador da Rede Municipal de Educação. Membro do Grupo Xiru do CTG – Querência da Saudade – Ponta Porã – MS.

 

 

Ponta Porã linha do tempo: Causos da região fronteiriça. Bandoleiro “BARULHO” o terror das patrulhas volantes.

• Yhulds Giovani Pereira Bueno.

 

“Quando cubro um macaco na mira do meu rifle, ele morre porque Deus quer; se Ele não quisesse, eu errava o alvo.” Virgulino Ferreira da Silva. “Lampião”. Rei do cangaço (BANDOLEIRO) nordestino no início do século XX.

 

Desde que o mundo existe, os conflitos e a violência fizeram e continuam a fazer parte do povoamento e desenvolvimento, durante a expansão territorial no contexto sociocultural do ser humano, isso registrado em documentos, escrituras inseridas nas mais diversas civilizações e religiões, não que isso seja certo, longe de se fazer uma apologia à violência ou reverencia-la, mas infelizmente faz parte do cotidiano histórico da população no passado e presente, não diferente na fronteira os entreveros que no dicionário informal significa: (brigas, discussão, confusão, desavenças etc...), sempre foram marcas desta região.

Em certo dia lá pelos idos de 1930 apareceu na região fronteiriça um viajante, pelas vestimentas só podia ser mais um do Rio Grande do Sul, este veio a se aventurar por estas terras, pela maneira de falar e de se portar logo ficou conhecido como “Barulho” um típico bandoleiro, mas o que é bandoleiro? Definido no dicionário sendo uma pessoa que não para em lugar nenhum anda de um lugar para o outro a procura de diversão.

Neste período histórico muitos viajantes passavam pela região, como as comitivas e tropeiros para aqui fazer sua parada e negociar terras e suas mercadorias, a compra e venda era algo corriqueiro, principalmente de gado e cavalos, isso ocorria nos dois lados da fronteira.

“Nem todos os integrantes das comitivas que vinham do Rio Grande do Sul, via Argentina e Paraguai, se dirigiam, logo de chegada, para os campos mato-grossenses, visando à fundação de fazendas. Muitos, pelos mais variados motivos, preferiam acampar no vilarejo de (Punta Porã) Ponta Porã”. Elpídio Reis.

No inicio “Barulho” ficou conhecido na região como negociante de gado, cavalo e mercadorias, pegava empreitadas e sempre estava viajando, visto aqui ali como se diz na fronteira, hora ou outra tinha no lombo do cavalo um volume grande bem enrolado, mas com o passar do tempo descobriu que o mesmo vitimava os viajantes e tropeiros da região, e que os volumes que carregava no lombo do cavalo eram os corpos de suas vitimas.

Os corpos eram levados ao um poço localizado na região do “Rincão de Julho”, este poço ninguém ao certo sabe quem teria feito se o próprio “Barulho” ou se esse já existia, o fato que o poço era utilizado para ser depositado às vitima. Por anos “Barulho” estava realizando tal façanha trágica, envolvido em roubo de gado e cavalo, logo a fama de quatreiro (na língua espanhola se lê cuatrero, bandido, assaltante) se espalhou e o mesmo começou a ser perseguido pelas “Patrulhas volantes” da região fronteiriça.

Os estancieiros da região já algum tempo estavam desconfiados das atitudes de “Barulho”, que já começara a vitimar pessoas próximas do seu convívio dentro do seu circulo de conhecidos e amizades, como não existe crime perfeito um dos ataques de “Barulho” fracassou, pois foi recebido a tiros na pequena estância que era do seu compadre, o mesmo alegou que estava de visita, em uma hora meio estranha, por ser de madrugada, na calada da noite sem avisar e direcionada aos gados da estância.

Sem sucesso e para complicar mais a vida de “Barulho” este quatreiro, o famoso poço com os corpos fora achado por nativos (índios) da região, o alvoroço estava feito algumas dúzias de corpos, alguns a mais de anos, nem todos os corpos foram retirados pelo estado que se encontravam, o poço foi lacrado sendo este o tumulo para as vitimas, muitas delas desconhecidas, pois poderiam ser viajantes e tropeiros, que passavam pela região. A revolta tomou conta dos valentes da região, os estancieiros e a peonada juntaram forças e formaram as “Patrulhas Volantes” para fazer a varredura e captura do “Barulho”, agora conhecido como bandoleiro e quatreiro sanguinário.

“Entre os ervateiros paraguaios sempre foi conhecida como patrulha bolante, Tanto do lado brasileiro como no lado paraguaio a sua missão era esta: prender se possível, ou matar, na fuga”. SEREJO, Hélio. Pialando... No Mas, p. 81.

“Barulho” agora tinha ao seu encalço as “Patrulhas volantes” que certo dia reuniu mais de 200 homens valentes da região para realizar a caçada final ao temido “Barulho” o cerco se estendeu por toda região, a caçada foi árdua, pois quando avistava alguma “Patrulha Volante”, “Barulho” trocava tiros e conseguia se esgueirando escapar, (esgueirar é definido no dicionário como sair às escondidas sorrateiramente).

O desfecho da perseguição se deu perto da fronteira próximo a região de Potrero Ortiz. (Potrero definição dentro da língua espanhola El que cuida de los potros dehesa, lugar destinado a la cria y pasto de ganado cabalar), na região conhecida como “cipoal” (cipó nativo), segundo relato de quem sabe de tal história, já cansado pela fuga e praticamente cercado “Barulho” se enterrou em um lamaçal próximo a um alagado, deixando somente o nariz para fora assim poderia respirar, quando os volantes se aproximavam ele se enterrava mais para não ser notado e só tirava o nariz para fora quando percebia que a Patrulha já estava longe.

Achando que todas as “Patrulhas Volantes” já haviam passado, ele não imaginava que um dos volantes ficou para traz arrumando os arreios do cavalo já cansado de tanto cavalgar na captura do quatrero, “Barulho” se desenterrou da lama e se deparou com o volanteiro na sua frente ao tentar sacar seu revolver o mesmo sujo de lama falhou, algo que não aconteceu com arma do volanteiro que sem piedade ou remorso descarregou a munição no quatreiro que tombou no lamaçal, agora para nunca mais tirar o nariz ou se levantar da lama.

Com os pipocos que ecoaram por campo aberto os outros membros das Patrulhas volantes foram chegando, ao se depararem com o bandoleiro caído morto na lama, muitos tiros foram dados de aviso chamando as outras Patrulhas volantes, mas conta o causo que não eram dados somente tiros ao alto, mas no quatreiro agora sem mais esboçar reação.

Esse foi o fim do “Barulho” bandoleiro, quatreiro sanguinário, que como suas vitimas foi enterrado em algum lugar deste rincão, ali tombou e ficou sua história não é bonita de se contar, por décadas ficou adormecida, pois herói ele não foi, seu erro foi cobiçar o que não lhe pertencia e matar para conseguir seu objetivo, duvidou da bravura dos valentes da região dos filhos e pioneiros desta terra, que recebe quem chega de braços abertos, mas não tolera desaforo.

“Aos bravos pioneiros que desbravaram florestas e campos das terras que construíram o outrora extenso Município de Ponta Porã, aos que ali lutaram como autênticos heróis dos sertões contra todas as dificuldades e infortúnios, aos que não estudaram e aos que morreram de doenças comuns, porque nas lonjuras onde moravam não havia escolas nem médicos, aos que cruzaram campinas e matas abrindo trilhas que depois se transformaram em estradas para o progresso, aos que trabalharam muitas vezes em condições desumanas em ranchadas ervaterias, em fazendas sem conforto, para o enriquecimento da região e do Brasil”. Reis. Elpidio – Ponta Porã polca Churrasco e Chimarrão, p. 13.

Coragem marca dos bravos pioneiros da região fronteiriça de outros tempos, onde o respeito e a palavra empenhada eram marca do sobre nome de uma família, o fio do bigode valia mais que assinatura de pena e tinta, e o aperto de mão selavam os negócios da região e desonestidade e desonra era lavada com sangue.

Pesquisador: Yhulds Giovani Pereira Bueno. Pós-graduado em Metodologia do Ensino em História e Geografia. Professor de qualificação profissional, gestão e logística (Programas Municipais, Estaduais e Federais). Professor coordenador da Rede Municipal de Educação

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